Em tempos de crise econômica, mesmo as mais poderosas mídias de entretenimento não querem saber de gastar além do justo e necessário. Os atores da Globo sabem muito bem disso: antes quase corriqueira, a prática de contratos longos tem diminuído cada vez mais entre o casting da casa, onde hoje predominam os vínculos por obra específica.
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A mais nova ‘vítima’ dessa política atual é a atriz Bianca Bin. Há quase dez anos exclusiva da ‘platinada’, ela recusou o papel da vilã Jô (Ágatha Moreira) em A Dona do Pedaço. Pouco tempos depois, também declinou de formar o trio principal feminino de Salve-se Quem Puder, próxima trama das 7 do canal – vaga assumida por Vitória Strada.
Resultado: perdeu seu vínculo de exclusividade com os Marinho. A partir de agora, ela não terá mais salário fixo e passará a receber somente enquanto estiver trabalhando. Por outro lado, ganhará o direito de escolher, sem constrangimentos nem pressões, os personagens que desempenha na casa. Já existe, inclusive, um convite para fazer seu debute no novo ‘sistema’, com um papel na supersérie O Selvagem da Ópera.
Antes de Bianca, muitos outros ‘globais de carteirinha’ acabaram ganhando o mesmo tratamento da rede carioca. Alguns se adaptaram até muito bem a essa realidade distinta. Já outros… Relembremos alguns casos.
Malu Mader
Ícone da telinha, Malu Mader estrelou toda a sorte de novelas e séries globais nas décadas de 1980 e 1990 – mas, com a entrada dos anos 2000, começou a ficar meio ‘preguiçosa’. Dona de um vultuoso contrato de exclusividade, sua média de trabalho nas duas décadas mais recente era de apenas uma novela a cada quatro anos!
Resultado: acabou demitida pela Globo em 2018, com a possibilidade de voltar a ser contratada por obra específica. À época, a esposa de Tony Beloto pareceu não se importar tanto com a dispensa. Meses depois, porém, circulou na imprensa a informação de que ela estava colocando alguns de seus imóveis para alugar, como alternativa para reforçar sua renda na ausência do salário da ‘platinada’.
Caio Castro
Revelado em 2008 pela rede dos Marinho, Caio Castro não demorou a se tornar um dos galãs favoritos das jovenzinhas. Apenas dois anos depois, virou protagonista em Ti Ti Ti (2010) e foi conquistando espaço cada vez maior no Projac. Depois de explodir em Amor à Vida (2013), porém, começou a ficar mais ‘seletivo’ quanto aos trabalhos seguintes.
Num período de menos de um ano, o ator teria recusado cerca de cinco convites para outras novelas – entre elas, Boogie Oogie (2014), na qual viveria o galã principal. Isso azedou sua relação com a emissora, que, em 2015, não quis renovar seu contrato, embora tenha deixado portas abertas para o ator em trabalhos por obra.
A vida de ‘global free’, aliás, até que não foi mal para Caio. Depois dessa ruptura simbólica, ele foi destaque em várias outras novelas, como I Love Paraisópolis (2015), Novo Mundo (2017) e a atual A Dona do Pedaço.
Marco Pigossi
Quando Caio Castro recusou o papel central de Boogie Oogie, Marco Pigossi assumiu seu lugar. Curiosamente, porém, poucos anos depois o bonitão seguiria uma trajetória similar ao do ex-colega dentro da Globo.
No ano passado, após ter estrelado a elogiada novela A Força do Querer (2017), Pigossi disse ‘não’ ao desejo da Globo de renovar seu vínculo de exclusividade. O motivo alegado era de que ele pretendia fazer um curso de interpretação no exterior. Pouco depois, porém, Marco anunciou sua contratação pela Netflix, para estrelar a série australiana Tidelands.
Em depoimento à revista GQ, o ator revelou posteriormente que deixou a Globo por ter se frustrado com seu último personagem na casa, o caminhoneiro ‘machão’ Zeca. “Vivemos em uma sociedade machista estruturalmente. Achei que essa novela traria esse questionamento, mas nada disso aconteceu. O Zeca me fez repensar minha função social e artística como ator. Senti que tinha chegado ao meu limite artístico”, explicou.
Marcos Pasquim
Desde 2000, quando estreou em Uga Uga, Marcos Pasquim não dá as caras em outra emissora brasileira que não seja a Globo. Justamente por isso, muita gente ficou surpresa quando ele revelou, em recente entrevista, que não possui mais contrato fixo com o canal desde 2015, quando concluiu as gravações de Babilônia.
Hoje contratado por obra, o ator confessou ver mais vantagem no modelo atual do que no anterior. “Acho esse sistema mais justo. Eu era protagonista da emissora e tinha que pedir autorização para tudo. E ela, muitas vezes, me foi negada. Perdi vários tipos de trabalhos“, relatou.
Carolina Ferraz
Foram 27 anos de trabalhos prestados à Globo, encerrados em 2016, quando a emissora pôs fim a seu vínculo com a atriz. Diferente de outros ex-colegas dispensados, porém, Carolina não deixou barato: entrou contra a emissora na Justiça, pedindo indenização milionária em direitos trabalhistas.
O processo ainda corre nos tribunais, mas, hoje, a Milena de Por Amor reconhece que pagará um alto preço pela ‘ousadia’. “Não me chamam mais [na Globo]. Fiz muitas novelas e, sinceramente, agora não tenho mais a menor intenção de voltar a fazer. Não acredito nem espero por um convite porque as portas estão fechadas. Isso está claro para mim“, declarou em recente entrevista.
Marcello Antony
Em 2013, quando vivia um homossexual em Amor à Vida (2013), o ator criticou abertamente o texto de Walcyr Carrasco na novela. Coincidência ou não, seu contrato com a emissora chegou ao fim no mesmo ano, sem direito à renovação.
Nos seis anos decorridos desde então, Antony fez apenas um trabalho completo na casa – Malhação: Viva a Diferença (2017) -, além de uma curta participação em Rock Story. Nesse meio tempo, arriscou-se como empresário, à frente de uma hamburgueria, e recusou um convite da Record TV para atuar em Apocalipse.
Mas as oportunidades na ‘platinada’ minguaram mesmo para Marcello, que no ano passado mudou-se para Portugal a fim de atuar na novela local Valor da Vida – da mesma autora de Ouro Verde, exibida pela Band.