“Isso é uma novela, querida”: assim como em Topíssima, relembre casos de confusões da ficção com a vida real

Publicado em 28/07/2019

A atriz Cristiana Oliveira interpreta Lara Alencar Dominguez em Topíssima, atração das 19h45min na Record TV, escrita por Cristianne Fridman. Mãe da protagonista Sophia (Camila Rodrigues), ela surgiu morta já no primeiro capítulo da novela. Posteriormente, remontou-se a quando Sophia (Camila Rodrigues) e Antônio (Felipe Cunha) se conheceram. Ex-noiva de Antônio, Luciana (Aline Riscado) também morreu na história. Cristiana Oliveira postou em seu perfil do Instagram uma foto na qual segurava um cartaz com uma foto de Aline/Luciana. E um questionamento sobre eventual crime. Tantas foram as reações no sentido de pensarem que Cristiana lamentava na vida real a morte de uma amiga chamada Luciana que a atriz foi obrigada a paciente e amigavelmente responder a todos os seguidores com mensagens como “Isso é uma novela, querida”. Vamos relembrar outros casos de confusões da vida real com a ficção.

Os personagens pobres de uma novela que ganharam moradia de um prefeito do interior

Entre 1969 e 1970, a TV Tupi exibiu às 19h a novela Nino, o Italianinho, de Geraldo Vietri e Walther Negrão. O protagonista era interpretado por Juca de Oliveira, comerciante humilde apaixonado pela esnobe e ambiciosa Natália (Bibi Vogel). De tal forma que não reconheceu de pronto o amor que a amiga Bianca (Aracy Balabanian) sentia por ele. A certa altura da narrativa, os personagens pobres, moradores de uma vila no Bixiga, foram despejados de suas casas. O prefeito de uma cidade do interior do Brasil ofereceu moradia a todos eles. Suas novas casas seriam construídas em terrenos que seriam cedidos pela municipalidade.

Chuvas destroem cidade cenográfica e ficção e vida real se confundem nas manchetes dos jornais

Entre 1970 e 1971 a Globo exibiu às 20h a primeira versão de Irmãos Coragem, um clássico absoluto da nossa teledramaturgia. Janete Clair ambientou sua história num lugarejo fictício do interior chamado Coroado. Pela primeira vez a emissora construiu uma cidade cenográfica para uma novela, com algumas ruas, uma praça, igreja, hotel etc. Durante fortes chuvas ocorridas na época, os cenários erguidos pela Globo para as gravações da história sofreram sérias avarias. Ao noticiar o fato, as manchetes disseram coisas como “Chuva destrói Coroado”. Sem necessariamente especificar que Coroado não existia de fato. Situações de uma época em que a própria imprensa misturava vida real e a de “mentirinha”. O que reforçava essa dualidade no imaginário popular, com efeito. A saber, Coroado ficava onde hoje é o Barra Shopping.

O número de sepultura que deu “na cabeça”

Ao final de Bandeira 2 (1971/72), novela de Dias Gomes, o bicheiro Tucão (Paulo Gracindo) morreu. A guerra com Jovelino Sabonete (Felipe Carone) pelo controle das bancas de bicho no bairro carioca de Ramos o vitimou. No dia seguinte à exibição do capítulo, o jogo do bicho apontou como vencedoras as apostas que coincidiam com o número da sepultura de Tucão. Além disso, ao saberem que uma peça com Paulo Gracindo no elenco estava com pouca bilheteria, os bicheiros do Rio de Janeiro compraram de uma vez só centenas de cadeiras. Eles se sentiam honrados e respeitados pela criação do ator para um deles na ficção.

Plano Collor e o confisco da poupança: os personagens da novela das 20h já começam com as medidas na ponta da língua

Silvio de Abreu estreou como autor do horário nobre com Rainha da Sucata, que estreou em abril de 1990. Em 16 de março, dia seguinte ao de sua posse como presidente, Fernando Collor de Mello implementou medidas econômicas radicais. Entre elas, só para ilustrar, o confisco do dinheiro depositado em cadernetas de poupança. No máximo 50 mil cruzeiros ficaram disponíveis para os correntistas, em moeda da época. A saber, com o governo Collor voltamos a ter o cruzeiro como moeda, após quatro anos de cruzado (e cruzado novo), na gestão de José Sarney.

A abertura de uma casa de shows salvou a protagonista da bancarrota

Pois bem. Rainha da Sucata estreou em plena convulsão provocada pelas medidas do Executivo. No entanto, seus personagens já surgiram plenamente impactados pelo confisco e situados nas mudanças. Maria do Carmo (Regina Duarte) deixava bem claro para os acionistas de sua empresa que felizmente não se havia perdido dinheiro em virtude de medidas governamentais, por exemplo. O capital ocioso havia sido aplicado na abertura da Sucata, uma casa de shows. Recentemente esse período foi relembrado nos primeiros capítulos de Verão 90.

Manoel Carlos e as confusões da ficção com a vida real nas novelas

Uma das características da obra de Manoel Carlos é a forte influência de acontecimentos reais, do cotidiano, na vida dos personagens. Não raro Maneco modifica textos ou os envia em cima da hora, justamente para adequar a narrativa aos fatos que os telespectadores vivenciam. Só para exemplificar, diversos atores do elenco de Mulheres Apaixonadas (2003) foram reunidos para a cena de uma passeata de protesto contra a violência urbana, especialmente a carioca. A passeata “Brasil Sem Armas” reuniu cerca de 40 mil pessoas em Copacabana e foi mostrada na novela ao som do Hino Nacional Brasileiro. Na época, era muito recente a morte da estudante Gabriela Prado Maia, vítima de uma bala perdida numa estação do metrô na Tijuca. A novela mostrou um tiroteio entre policiais e ladrões no Leblon, quando Téo (Tony Ramos) foi ferido gravemente e Fernanda (Vanessa Gerbelli) morreu.

Além disso, os pais de Gabriela Prado Maia participaram de um debate sobre violência promovido pela professora Santana (Vera Holtz) na Escola Ribeiro Alves (ERA), onde estudavam os jovens do enredo, como Paulinha (Roberta Gualda), Marcinha (Pitty Webo) e Fred (Pedro Furtado).

Salve Jorge e a tomada do Morro do Alemão pela polícia

Nanda Costa interpretou Morena em Salve Jorge (Divulgação / Globo)
Nanda Costa interpretou Morena em Salve Jorge Divulgação Globo

Glória Perez iniciou a narrativa de Salve Jorge (2012/13) em 2010, com a tomada do Morro do Alemão pela polícia. Era lá que morava a protagonista Morena (Nanda Costa). Ademais, era durante a operação que ela conhecia o policial Théo (Rodrigo Lombardi). Os dois se apaixonavam e tinha então início toda a sorte de complicações para o casal, desde o preconceito da mãe do rapaz, Áurea (Suzana Faini), até o sofrimento de Morena em sua passagem pela Turquia, para onde acaba traficada pela quadrilha de Lívia (Cláudia Raia). Cenas da cobertura jornalística da tomada do Morro do Alemão foram utilizadas na novela, entremeadas com outras, gravadas para a obra de ficção.

As atrizes cujas intervenções cirúrgicas reais foram aproveitadas na TV, em mais uma das confusões da ficção com a vida real nas novelas

Em 1975, a atriz Neuza Amaral se submeteu a uma cirurgia plástica. O procedimento foi realizado na Casa da Mãe Pobre, no Rio de Janeiro, e o diretor Fábio Sabag registrou tudo. As cenas foram mostradas na novela Bravo!, de Janete Clair e Gilberto Braga, na qual Neuza interpretava Fabiana, irmã do protagonista Clóvis Di Lorenzo (Carlos Alberto). Posteriormente, outra atriz também surgiu em cena durante uma cirurgia real. Para ser mais exato, 29 anos depois.

Metamorphoses (2004), argumento de Arlete Siaretta desenvolvido por diversos autores-roteiristas, mostrou Thallyta Cardoso como Thallyta, jovem que se sentia diminuída ante a exuberância e a beleza de sempre de sua mãe, a atriz Margot Du Bois (Joana Fomm). Thallyta passou por uma cirurgia na qual implantou silicone nos seios e modificou um pouco seu nariz. Tudo foi ao ar na novela como parte da trajetória da personagem, e casava perfeitamente com o ramo de atuação da empresa da novela, uma clínica de alto padrão.

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