Fera Ferida: 25 anos da novela que explorou o universo de Lima Barreto

Publicado em 18/11/2018

Há 25 anos, em 15 de novembro de 1993, a Rede Globo estreou em seu horário nobre a novela Fera Ferida. Escrita por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, a história aproveitou diversos elementos da obra do escritor fluminense Lima Barreto (1881-1922). Ainda, usou e abusou do realismo fantástico, ingrediente retomado por Aguinaldo na atual O Sétimo Guardião.

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A trama central de Fera Ferida

Edson Celulari como Raimundo Flamel em Fera Ferida (Divulgação/TV Globo)
Edson Celulari como Raimundo Flamel em Fera Ferida DivulgaçãoTV Globo

A vingança, este sentimento tão em voga na dramaturgia, estava no centro da trama da novela. Feliciano Júnior (Edson Celulari) volta a Tubiacanga, após 15 anos de ausência, para honrar o nome de seu pai, Feliciano Mota da Costa (Tarcísio Meira). E também para se vingar da morte dele e de sua mãe, Laurinda (Lucinha Lins). Feliciano foi vilipendiado pela população da cidade, da qual era prefeito. Estavam todos cegos de ambição ao se sentirem enganados por ele, que havia recolhido dinheiro de todos. Sua intenção, a saber, era investir no setor de extração de minerais preciosos, fazendo de Tubiacanga um polo da área. Ao ressurgir com uma nova identidade, Raimundo Flamel, Feliciano Júnior vem envolto em mistério e sob a profissão de alquimista.

José Wilker, Juca de Oliveira e Lima Duarte em Fera Ferida (Divulgação/TV Globo)
José Wilker Juca de Oliveira e Lima Duarte em Fera Ferida DivulgaçãoTV Globo

Numa cilada do destino, o grande amor é justamente a filha do maior inimigo

No processo de vingança e ódio, Flamel encontra amor e carinho nos braços de Linda Inês (Giulia Gam), sua namoradinha de infância. Mas a moça é filha de seu maior desafeto, o hoje prefeito Demóstenes (José Wilker). Entre os poderosos de Tubiacanga está também o Major Emiliano Cerqueira Bentes (Lima Duarte). Autoritário e pão-duro emérito, o “defensor da segurança nacional de Tubiacanga” era um poço de ganância. E o vereador Numa Pompílio de Castro (Hugo Carvana), cuja esposa Rubra Rosa (Susana Vieira) é amante do prefeito.

Ainda, a presença do professor Praxedes de Menezes (Juca de Oliveira), editor do jornal da cidade, a Gazeta de Tubiacanga. Figura muito respeitada, marido e pai exemplar, o professor balança ao começar a dar aulas para a inculta e bela Maria dos Remédios (Luiza Tomé). Ela é esposa de Chico da Tirana (Tonico Pereira), dono do bar que é ponto de encontro da cidade.

Outros personagens de destaque em Fera Ferida

Cássia Kiss em Fera Ferida
Cássia Kiss como Ilka em Fera Ferida DivulgaçãoTV Globo

Vários momentos cômicos surgiram da relação entre Ilka Tibiriçá (Cássia Kiss), cunhada de Demóstenes, e o irmão de Praxedes, o impotente Ataliba Timbó (Paulo Gorgulho). Ela tentava ajudá-lo com receitas afrodisíacas, e o romance dos dois rendeu muitas cenas divertidas. Havia ainda a disputa entre os amantes do passado, Major Bentes e Salustiana Maria (Joana Fomm), que jurava ser ele o pai de seu filho, o bon vivant Cassi Jones (Marcos Winter).

O triângulo amoroso formado por Demóstenes, Rubra Rosa e Perla Menescal (Cláudia Alencar) também deu o que falar. Bela e esfuziante, Perla era uma atriz decadente, que vai parar em Tubiacanga ao seguir o rastro de um amante. Ela logo se interessa mesmo é pelo prefeito, viúvo, rico e poderoso na região.

O grande acerto do aproveitamento da obra de Lima Barreto em Fera Ferida

Lima Barreto, escritor cuja obra serviu de base a tramas e personagens de Fera Ferida (Divulgação)
Lima Barreto escritor cuja obra serviu de base a tramas e personagens de Fera Ferida Divulgação

A rica obra de Lima Barreto, que tem sido cada vez mais exaltada e reconhecida, foi respeitada em sua essência. Com efeito, o escritor registrou bem as mazelas sociais e políticas de seu tempo, o início da nossa República e do século 20. Assim sendo, os perfis dos personagens e seu entrelaçamento forneciam bom material para uma novela.

O alquimista Flamel e sua ideia de transformar ossos humanos em ouro vieram de “A Nova Califórnia”, conto de Lima. Outro conto deu origem a uma trama paralela importante. “O Homem que Sabia Javanês” foi a base para o personagem Etevaldo (Pedro Vasconcelos), filho de Praxedes e Querubina (Vera Holtz). Supostamente o jovem, “fiel depositário dos maiores sonhos e esperanças” do pai, vivia na capital se matando de estudar. No entanto, Etevaldo vivia mesmo eram dias e noites de dissipações. Era ele o amante que gastava todo o dinheiro com Perla.

Lima Barreto foi homenageado, ainda, com o personagem de Otávio Augusto, Afonso Henriques de Lima Barreto. Além disso, havia uma foto de Lima com a faixa presidencial na sala de Demóstenes na Prefeitura. E os logradouros públicos de Tubiacanga tinham nomes de personagens da obra do escritor. Por exemplo, Rua Escrivão Isaías Caminha, ou Praça Policarpo Quaresma.

Clara dos Anjos e intercorrências com sua intérprete

“Clara dos Anjos”, outra conhecida obra de Lima Barreto, inspirou outra trama paralela de destaque. A personagem (Érika Rosa) foi aqui retratada como a herdeira natural de uma comunidade de raízes africanas, liderada por sua mãe, Engrácia (Maria Ceiça). Mas a jovem se deixa levar pela lábia de Cassi Jones, que se aproveita dela unicamente em virtude de sua beleza. Posto que o desempenho de Érika Rosa foi bastante criticado, em virtude disso sua saída da novela se deu algumas semanas antes do final.

Com O Sétimo Guardião, Aguinaldo Silva retorna ao seu melhor universo

Uma novela com oportunidades para todo o elenco se destacar

A galeria de bons personagens deu chance para todo o elenco brilhar. Na ocasião voltando à Globo após cinco anos ausente, Cláudio Marzo fez do coveiro Orestes um tipo memorável. Outro que na época andava longe não só da emissora, como também das novelas, era Juca de Oliveira. Seu professor Praxedes também ficou marcado na memória dos espectadores, com seu linguajar apurado e preciosista.

Murilo Benício como Fabrício em Fera Ferida (Divulgação/TV Globo)
Murilo Benício como Fabrício em Fera Ferida DivulgaçãoTV Globo

A batalhadora costureira viúva Margarida Weber, tia de Flamel, ofereceu a Arlete Salles uma boa oportunidade dramática. Ao passo que, na pele de mais uma das mulheres más e desagradáveis que viveu na carreira, Joana Fomm deu o costumeiro show de talento. Hugo Carvana foi muito bem como o pusilânime Numa, ladeado sempre pelo assessor Maxwell Antenor (Giuseppe Oristânio). Repetindo a química anteriormente vista em Que Rei Sou Eu? (1989), Edson Celulari e Giulia Gam.

Ainda, a revelação de Murilo Benício como o gari socialista Fabrício, apaixonado por Isoldinha (Carolyna Aguiar), filha mais nova de Margarida. Outros estreantes em novelas eram Camila Pitanga, Carolina Dieckmann e Bruno de Luca.

As reprises de Fera Ferida

Apresentada em 210 capítulos, de 15 de novembro de 1993 a 16 de julho de 1994, até aqui Fera Ferida voltou às telas em duas ocasiões. A primeira, de forma compacta, foi na sessão Vale a Pena Ver de Novo, às 14h, a saber, de 15 de setembro de 1997 a 6 de fevereiro de 1998. Uma nova reprise foi ao ar pelo canal pago Viva, na íntegra, à meia-noite (com horário alternativo às 13h30), horário destinado às novelas “mais clássicas”. Desta vez, a exibição ocorreu de 15 de junho de 2015 a 13 de fevereiro de 2016.

Curioso notar que, a exemplo da exibição original, nesta reprise o final também foi apresentado num regime que fugiu ao usual. Os dois últimos capítulos foram exibidos na mesma noite, a saber, das 23h à 1h. A apresentação alternativa ocorreu normalmente na tarde da segunda-feira seguinte, dia 15 de fevereiro de 2016: das 12h às 14h. Em conclusão, uma curiosidade: nas três ocasiões em que foi ao ar, a novela estreou num dia 15.

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