Bom Sucesso

“Tem uma torcida muito grande”, diz Rafael Infante sobre casal gay de Bom Sucesso

Ator interpreta Pablo Sanches na novela das sete

Publicado em 10/10/2019

Na onda de grandes nomes do humor que desembarcam com tudo nas novelas, não poderia faltar Rafael Infante. Membro da trupe virtual Porta dos Fundos, ele é atualmente um dos destaques da novela das 7 da Globo, Bom Sucesso, na pele de Pablo Sanches, um galã de novelas que passou muito tempo ocultando sua homossexualidade.

A forma como a trama vem retratando a relação gay entre Pablo e William (Diego Montez), aliás, tem ganhado elogios na internet. “Eu acho que o meu personagem, até por ter ficado muitos anos fingindo que não é homossexual, tem um preconceito para quebrar dentro dele próprio também. O William representa para ele o afeto homossexual“, analisa.

Confira a entrevista completa com o ator de Bom Sucesso.

OBSERVATÓRIO DA TELEVISÃO – Como você resumiria o seu personagem em Bom Sucesso?

RAFAEL INFANTE – Eu faço o Pablo Sanches, que é ator, é homossexual não assumido – o que já veio à tona agora na trama, graças ao livro de Silvana Nolasco (Ingrid Guimarães). Agora estamos gravando o momento em que ele sofre um acidente de trabalho, cai de um precipício na novela que ele fez dentro da novela, Precipício do Amor. Agora, detalhes disso eu não posso falar ainda!

Mas isso será apenas coincidência ou uma vingancinha?

É um acidente de trabalho. Vai haver cenas que vão explicar isso melhor. Mas é um acidente sim.

Como está sendo pra você interpretar o Pablo?

Está sendo muito legal. A minha relação com o William (Diego Montez) também está sendo muito legal de fazer. Tem uma torcida muito grande por eles – apesar de que eu também recebo uns esporros na internet, quando o meu personagem fala de mau jeito com ele. A internet acompanha e dialoga a cada fala nossa. Isso é muito maneiro.

Hoje vemos muita gente do humor começar nas novelas. Como foi, para você, essa transição?

Tem esse desafio novo, por ser novela, mas não pelo fato de eu sempre ter feito humor. Porque antes de tudo eu sou ator, né? E, como ator, você pode fazer comédia, fazer drama… Não tem muito essa questão de separar as coisas.

Você, como ator, prefere fazer drama ou comédia?

Eu acho que os dois têm a sua dificuldade. Mas o humor tem uma corda bamba que é muito delicada, difícil. Acho que é bem tênue a linha entre o exagero e o pouco… É uma onda muito difícil de surfar, mas eu amo!

Existem muitos humoristas que, fora do trabalho, são mal-humorados. Como é essa questão para você? Você acorda de bem com a vida?

Acordo, mas na verdade acordo como todo mundo, né? Às vezes estou de bem com a vida, às vezes mais cansado… Tem de tudo, né? Porque você fazer do riso seu ofício é uma coisa muito particular, mas não significa que você precisa estar sempre rindo de tudo. Até porque o riso sempre tem alguma coisa que questiona. Ele não é só um riso gratuito bobo. Às vezes traz reflexões profundas também.

O seu selinho com o William na novela parou a internet. Mas, ao mesmo tempo, deu-se de forma bem natural, sem muito alarde…

Como é na vida real, né? Isso foi o mais legal. De forma completamente natural. Porque isso [beijo entre dois homens] acontece na casa das pessoas, dentro de qualquer lugar, e muitas pessoas fingem que não. Isso é muito bacana. Pra quem tem preconceito, isso vai ser uma ajuda pra pessoa refletir. Pra quem já acha isso natural, é legal você estar vendo [na TV] a vida como ela é. A própria comunidade LGBTI comemorou muito por ter sido uma coisa muito natural, sem um grande ‘espetáculo’ em cima daquilo. É como a pessoa vive, né? Tem um namorado e o beija, simplesmente. E a gente, quando gravou, não pensou nem um pouco em panfletar, nada disso… Era realmente como estava escrito, como foi natural gravar, entende?

Tem-se discutido ultimamente a respeito de o termo ‘beijo gay‘ já estar ultrapassado. É uma expressão que fez sentido em algum momento, mas talvez hoje já não se aplique. O que você pensa a esse respeito?

Concordo! E acho que a repercussão positiva dessa cena [de beijo entre William e Paulo] mostra isso. É um beijo, simplesmente. O que está sendo comemorado é exatamente isso.

Você acha que o relacionamento com o William possa mudar o Pablo, transformando-o em uma pessoa melhor?

Acho que sim. Eu acho que o meu personagem, até por ter ficado muitos anos fingindo que não é homossexual, tem um preconceito para quebrar dentro dele próprio também. Por mais que ele esteja se assumindo agora e tudo o mais, ainda existe dentro dele esse preconceito. E o William representa para ele o afeto homossexual. Porque de repente, transar com pessoas [do mesmo sexo], ele não leva tão a sério. Mas o William vem com afeto, vem com emoção. E o Pablo tem um certo preconceito com o próprio William, entende?

E o público está comprando isso?

Está sim. Alguns estão meio ‘putos’. Acham que ‘eu’ devia tratá-lo melhor.

A sua química com a Ingrid Guimarães é excelente em cena! Como é essa entre vocês?

Está sendo uma delícia. Eu gargalho com ela, acho ela engraçadíssima. As histórias da vida dela também me emocionam, quando me conta sobre a filha… Eu tenho uma filha também, de três anos, então a gente fala sobre isso. E isso acaba indo pra cena também.

Era um sonho seu, fazer novela?

Era. Sempre quis fazer novela. Acho que todo ator no Brasil tem todo esse sonho. É um produto com muito alcance, até fora do Brasil. Mas nunca tive aquela ansiedade, ‘preciso fazer novela’… Acho que veio no momento certo.

O que tem de diferente em estar numa novela sobre outros tipos de trabalho?

Muita coisa. O tamanho daquilo é muito grande, tanto de alcance como da própria produção. É muito grandioso.

A sua filha já te reconhece?

Já! Ela fala ‘nossa novela’ [sobre Bom Sucesso]. As pessoas às vezes pedem foto pra mim na rua, e isso ela ainda está entendendo, por que acontece e tal.

Ela chegou a ver sua cena de beijo com o Diego Montez?

Não. Essa cena especificamente, não. Mas não por nenhum tipo de cuidado diferente. Ela não estava em casa na ocasião ou estava dormindo. Não fiz também questão de parar pra mostrar.

Que tipo de pai você é?

O mais apaixonado e babão possível! Incentivador, brincalhão…

Você já pensa no cuidado que vai ter na criação dela, até no sentido de quebrar ou evitar preconceitos?

Sem dúvida! Aliás, ela está num momento muito interessante, perguntando muito sobre a coisa do negro. Porque na escola dela, apesar de ser uma escola que tem inclusão, não tem muitos negros. Então toda hora a sociedade mostra pra ela que o negro não é tão incluído na sociedade. E ela está agora tentando entender isso. Estamos conversando bastante. É muito bacana você conviver com uma criança fazendo esse questionamento, olhando a diferença. É a coisa mais pura que tem.

Você que sua filha vai querer ser atriz?

Eu acho! [risos] Acho que ela tem sim essa vocação. É difícil falar com três anos, até porque o que ela decidir ser eu com certeza vou apoiar. Mas ela tem todo um jeitinho de exibida. Brinca de fazer peça, depois tem que tirar foto com ela.

(entrevista realizada pelo jornalista André Romano)

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