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Nicolas Prattes revive papel de Tarcísio Filho no remake de Éramos Seis: “Anjo torto”

Trama estreia dia 30 de setembro

Publicado em 13/09/2019

Quando descobriu que faria a nova versão de Éramos Seis na Globo, Nicolas Prattes começou a se preparar para viver Carlos, o filho mais velho de Lola (Glória Pires) e Júlio (Antonio Calloni). Mudanças, porém, ocorreram, e hoje ele se encontra completamente mergulhado – e fascinado – no universo de Alfredo, o herdeiro ‘problemático’ dos protagonistas. O mesmo personagem foi vivido por Fábio Cardoso, Plínio Marcos, Carlos Alberto Riccelli e Tarcísio Filho em adaptações anteriores da história.

Realmente, ele não é o mocinho. Se tiver algum mocinho na história é o Carlos (agora, Danilo Mesquita), e o Alfredo é exatamente o antagonista disso. Ele é o ‘anjo torto’. Eu amo contradições, e nada mais contraditório que o Alfredo“, derrete-se o bonitão, que ganhou notoriedade na recente O Tempo Não Para (2018) – seu primeiro protagonista na Globo.

O rótulo de galã, aliás, é encarado com muita naturalidade por Nicolas. “Outro dia, eu vi uma entrevista do Tarcísio Meira, onde ele disse: ‘no início falavam, falavam [que era apenas um galã], e isso só me motivava pra fazer mais e mais’. E ele não se incomodava. Aí eu pensei: ‘se o Tarcísio não se incomodava, quem sou eu pra me incomodar?’ “, escusa-se.

Confira o bate papo completo com o ator.

OBSERVATÓRIO DA TELEVISÃO – Esse bigode ficou muito bem em você. É parte da sua caracterização para o novo personagem?

NICOLAS PRATTES – A família inteira [do personagem] usa! [risos] Na verdade, aconteceu uma coisa comigo que aconteceu na última novela também: eu mudei de personagem. Então essa caracterização, na verdade, era pro Carlos [papel que ficou com Danilo Mesquita], porque ele é o irmão mais velho, pra passar uma maturidade… E aí me mudaram pro Alfredo. Mas o que acontece? O Alfredo, pra mim, ele é meio que o alter ego do Júlio (Antonio Calloni), e o Calloni está de bigode. Aí o Carlinhos [Carlos Araújo, diretor artístico da novela] queria tirar o meu bigode, porque o Carlos precisava soar mais velho que eu… Aí eu falei: ‘Carlinhos, mas e o Júlio? Você não acha que a poesia é que eles [Alfredo e Júlio] são farinha do mesmo saco?’ Ele falou: ‘Rapaz, você tem razão!’ [risos] Aí continuei e acabou que o Julinho – que é o André [Luiz Frambach] – e o Alfredo também vão estar de bigode.

Você assistiu a alguma coisa das outras versões de Éramos Seis?

Eu fui atrás disso logo que soube que era um remake, né? O primeira arquivo que tem é da Tupi [versão filmada em 1977], e mesmo assim são poucos, mas do SBT tem bastante. Então eu procurei assistir a tudo que tinha. Eu vi a do SBT praticamente inteira, porque existe bastante conteúdo. E é uma história que se explica por que fez tanto sucesso. Porque fala muito sobre família, e você vê que família é igual desde 1930. Os problemas, os conflitos, o jeito que ama, o jeito que briga porque ama, o afeto, a forma como o tempo molda essas relações… Eu procurei entender o porquê desse ‘bafafá’ todo em cima dessa novela.

Quem fez o Alfredo nas versões anteriores?

O Alfredo na Tupi foi o [Carlos Alberto] Riccelli, e no SBT foi o Tarcísio Filho. Antes da Tupi, eu não me lembro direito.

Fale um pouco do seu personagem. Como é o Alfredo?

O Alfredo, como eu já dei em spoiler aqui [risos], é realmente o alterego do Júlio. Digo bastante isso porque não consigo achar definição melhor. Ele é esse cara que não está no mesmo batimento cardíaco que os outros personagens, porque vai de encontro a tudo o que acreditam. As pessoas querem que ele seja uma coisa e ele não quer ser essa coisa. Na verdade, mesmo se ele quisesse, ele não conseguiria. Ele é um cara que poderia ter um déficit de atenção na escola, porque não consegue ficar parado, não consegue entender a professora. A mãe dele não entende isso, o pai não entende isso, e ele se sente incompreendido o tempo inteiro. E essa incompreensão gera nele quase um sentimento de autodestruição. Como se dissesse: ‘já que eu não consigo, eu vou pra outros caminhos’. E ele começa a fazer uma série de coisas que vão realmente consumindo ele por dentro e consumindo todo mundo. É daí que saem a maioria dos conflitos desse personagem.

Esse está sendo um trabalho diferenciado para você, não?

Sim. É a primeira vez que faço um trabalho de época. E tem uma coisa engraçada, porque a minha avó, antes de eu ser ator, ela queria que eu fosse ator pra fazer um trabalho de época. Porque, quando eu era pequeno, ela penteava meu cabelo pra trás, achava elegante e falava: ‘Você tem que fazer época!’ [risos] E eu, de fato, estreei aqui com Terra Nostra, que era época. Fiz o filho da Ana Paula Arósio e do Thiago Lacerda, em 2000. Aí a minha avó falou: ‘Meu Francesquinho voltou!’ [risos] Que era o nome do meu papel em Terra Nostra.

A descrição que você fez do Alfredo lembra um pouco o Davi, seu personagem no filme O Segredo de Davi. Você acredita que eles têm mesmo alguma semelhança?

Talvez, porque em ambos casos a gente fala de comportamentos um pouco obscuros, né? De uma energia que não é de luz. Só que o Davi na verdade é uma coisa um pouco mais sorrateira. Porque ele tem um prazer no mal. O mal dá a vontade dele de viver. O Alfredo é bom. Ele não consegue ser o que os outros querem que ele seja. Porque, se o Alfredo fosse simplesmente o mal pelo mal, por que esse cara de 22 anos ainda está morando com os pais? Quando ele era criança, ele aprontou tantas coisas que, quando esse cara cresce, as pessoas falam: ‘isso aí não vai durar uma semana em casa’. E o único motivo de ele continuar nessa casa é porque ele ama aquela mãe de uma maneira que transcende qualquer obstáculo que ele tenha dentro dele. A mãe é como se fosse uma santa pra ele. Então esse amor justifica tudo. O Davi não amava ninguém. Tudo que ele queria é uma coisa que… Correspondia ao amor, mas não era esse amor de família, puro, que a gente está contando nessa história.

Você comentou que viu a novela do SBT. Como é construir algo novo em cima de uma história que, não só você, mas muitos de nós já sabemos onde vai dar?

Como esta é uma história livremente baseada em algo, coisas podem mudar [em relação ao livro original e às outras versões. Por exemplo, eu pesquisei e descobri que o final do livro [da autora Maria José Dupré] é diferente do final do SBT e da Tupi. Eu fui procurar o motivo, e parece que o Carlos Augusto Strazzer e o Ricelli, quando viviam Carlos e Alfredo, estavam sendo cotados para serem protagonistas de alguma outra novela naquele mesmo então [era a primeira versão de O Profeta, escrita por Ivani Ribeiro e produzida em 1978]. E a preparação para a outra novela não daria tempo de eles terminarem Éramos Seis. Então o Strazzer foi aprovado pra ser protagonista e precisou sair. Tanto que, se você pega o livro, vê que lá ele tem uma morte parecida com a do pai – que é uma coisa linda, uma poesia maravilhosa. Nas novelas da Tupi e do SBT, ele vai ver uma confusão na rua e toma um tiro. Uma coisa que foi ‘encaixada’ ali.

Você fez uma verdadeira ‘pós-graduação artística’ com suas mães na ficção: Ana Paula Arósio (Terra Nostra), Vanessa Gerbelli (Malhação: Seu Lugar no Mundo), Ana Cecília Costa (Rock Story), Christiane Torloni (O Tempo Não Para) e agora Glória Pires. Que felicíssima coincidência, não?

Sim, e houve também uma coisa [em comum] de conflito de pai, né? Porque, na Malhação, eu tive um conflito com o meu ‘pai’, que era o Marcelo Airoldi; no começo de Rock Story, era o maior quebra-pau com o Vladimir Brichta; em O Tempo Não Para, entrou o Nelson Freitas também, que era uma outra situação parecida; e aqui [em Éramos Seis], é isso também. Só que aqui é diferente. Aqui é porque eu sou igual. A coisa [com o pai do personagem, Alfredo] é mais ou menos assim: ‘agora que eu sou adulto, o senhor não vai mais me fazer de gato e sapato’. São conflitos diferente, mas de fato tem essa ‘pós-graduação’ – que eu só agradeço, porque só aprendo com essas pessoas, que estão aí há anos e anos e são gênios pra mim. Todos me ensinaram coisas que eu vou levar pra minha vida inteira. Todos mesmo, cada um deles. Até o Nelson Freitas, que entrou no final de O Tempo Não Para, a gente teve 30 capítulos pra gravar… A primeira cena que a gente gravou junto foi a cena em que o meu personagem [Samuca] reencontrava o pai após mais de 20 anos. E foi muito doido, porque a gente teve uma conexão muito forte já nesse primeiro encontro. Essa conexão eu tive com todos [os atores que viveram seus ‘pais’ na ficção]. Eu não comecei ainda a gravar com a Glória e com o Calloni. A gente já teve algumas experiências com câmera nessa novela, mas ainda não gravamos nenhuma cena propriamente. Estamos construindo uma coisa muito legal.

Onde você buscou a referência para compor esse lado ‘rebelde’ do Alfedo? Pelo jeito, ele não tem muito a ver com você…

Graças a Deus que não tem nada a ver comigo! [risos] As referências são muitas. Eu costumo chamá-lo de ‘rebelde sem causa’. Então, lógico que eu vi Juventude Transviada [filme de 1955, cujo título original é Rebel Without a Cause], do James Dean. O Alfredo, pra mim, remete a vários personagens, porque é um cara muito contraditório. E nada mais contraditório que o ser humano, né? Todos nós nos contradizemos o tempo todo. Isso é humano. Mas eu vejo muito dele também no papel do Marlon Brando naquele filme Um Bonde Chamado Desejo (1951). Tem o Vincent Cassel num filme chamado Meu Rei (2015), uma grande inspiração porque ele é um cara muito sedutor. E o Alfredo tem essa coisa da sedução. A mãe o protege tanto, porque ele é o filho que mais dá carinho pra ela. Não que ele queira conquistá-la, não é algo calculado. Ele faz porque é natural dele – e é isso que eu acho bonito.

Você também é assim com sua mãe – a também atriz Giselle Prattes?

Sou, total. Eu sou ‘pós-graduado’ em relacionamento materno também com a minha mãe da vida real. É uma paixão de louco mesmo. Eu a coloco na mesma dimensão da que tem o Alfredo pela dona Lola, porque ele faz coisas pela Lola que comprovam esse amor tão grande – que eu também tenho pela minha mãe.

A sua mãe é sempre muito elogiada na internet. Isso já te despertou ciúmes alguma vez?

Demais! Agora eu estou mais ‘saudável’, mas, quando eu era pequeno, a gente andava juntos no shopping. Passava um homem eu sabia que ele ia olhar pra bunda dela. Ele olhava, eu pegava na mão dela e ficava encarando ele. Mas fui crescendo e pensei: ‘se continuar com isso, um dia você vai tomar uma porrada’. [risos]

Havia um certo preconceito com você no início da sua carreira, sob o estigma de que só fosse ‘um rostinho bonito’. Mas, com o Samuca de O Tempo Não Para, a crítica passou a te enxergar diferente. Você considera esse personagem como um divisor de águas na sua trajetória televisiva?

Foi sim! Na verdade, eu estava escalado para Verão 90 [faria Quinzinho, personagem que ficou com Caio Paduan]. Eu fiquei sabendo em 22 de abril que seria remanejado para O Tempo Não Para, sendo que o primeiro dia de gravação era 6 de maio – lembro bem da data porque meu aniversário é em 4 de maio. Então eu tive 13 dias pra construir o personagem. Costumo dizer que meu personagem foi quase construído ao vivo! Então no começo eu errei muito, muito mesmo, e falo isso com tranquilidade. Mas com certeza foi uma experiência que virou um divisor de águas. Na verdade, antes de O Tempo Não Para, eu fiz O Segredo de Davi. Lógico, estamos falando de cinema. Mas o Davi também me deu um lugar muito legal, uma noção muito grande da profissão. E, claro, tem essa coisa do rótulo [de ‘rostinho bonito’], que a gente está acostumado, faz parte da indústria. Não me incomoda.

Por falar em rótulos da indústria… Como você lida com o estigma de galã de TV?

Eu não me incomodo. Nunca. Apenas não acredito. Outro dia, eu vi uma entrevista do Tarcísio Meira, onde ele disse: ‘no início falavam, falavam [que era apenas um galã], e isso só me motivava pra fazer mais e mais’. E ele não se incomodava. Aí eu pensei: ‘se o Tarcísio não se incomodava, quem sou eu pra me incomodar?’ E não me incomodo mesmo. Entendo que faz parte.

Você consideraria o Alfredo como mocinho ou vilão?

Mocinho, esquece! [risos] Realmente, ele não é o mocinho. Se tiver algum mocinho na história é o Carlos, e o Alfredo é exatamente o antagonista disso. Ele é o ‘anjo torto’. Eu amo contradições, e nada mais contraditório que o Alfredo.

(entrevista realizada pelo jornalista André Romano)

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