“Há tantas estatísticas que fica complicado entender quem diz que não existe LGBTfobia no Brasil”, diz Pedro Vinícius, de Malhação

Publicado em 10/10/2018

Pedro Vinícius, 18, mal começou a trabalhar e já ganhou uma enorme incumbência. O ator, que está no ar em Malhação – Vidas Brasileiras como o adolescente Michael, protagonizou o primeiro beijo gay da novela teen, ao lado de Giovani Dopico, que interpreta Santiago.

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Este é o primeiro personagem de Pedro e é também seu primeiro emprego. Segundo ele, seu encontro com a Globo foi por acaso.

Natural de João Pessoa, ele foi ao Rio cursar o Ensino Médio em uma escola-residência. Durante um estágio no Espaço Cultural Escola SESC, conheceu a diretora Natália Grimberg, que o convidou para fazer o teste para Malhação.

“O casal Santiel está sendo bastante aclamado pelos fãs de Malhação, e eu estou bastante feliz com isso. Estamos vivendo um momento esquisito, então é muito relevante receber esse abraço do público. Agradeço e sigo torcendo por dias em que o amor e o afeto não sejam atos de terror para ninguém”, afirma o ator, em entrevista ao Observatório da Televisão.

Críticas por beijo em Malhação

Ele diz também que recebeu algumas críticas após o beijo do casal, e aproveitou para fazer um alerta às pessoas que acreditam que não existe preconceito contra LGBTs: “Procurem se informar mais. Há tantas estatísticas sobre as violências que nós estamos sujeitos, tantos depoimentos de pessoas que já passaram por agressões diversas, que fica complicado entender alguém que julga que não existe LGBTfobia no Brasil”.

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Confira a entrevista na íntegra:

Como o papel do Michael chegou até você?

O Michael foi um presente que veio muito por acaso. Eu fiz o Ensino Médio numa escola-residência daqui do Rio, a Escola SESC de Ensino Médio, que tem um projeto pedagógico bem diferenciado. Ano passado, quando eu cursava o terceiro ano do Ensino Médio, teve um evento sobre educação na escola. Eu e uma amiga estávamos guiando um grupo que queria conhecer mais sobre o projeto pedagógico. No grupo, tinha uma mulher que fazia perguntas como o que havia nos motivado a sair de casa tão jovens, o que queríamos fazer quando saíssemos do Ensino Médio etc. No fim da visita, ela disse que queria conversar com a gente e se apresentou. Disse que era Natália Grimberg e que dirigiria a nova temporada de Malhação, queria que fizéssemos um teste. E aí as coisas foram acontecendo, dando certo e cá estou!

O que emprestou de si para ele e o quanto tem aprendido com Michael?

Eu emprestei muito de mim para ele, somos parecidos. O Michael me lembra o Pedro de 15 anos, esse frescor de poder se expressar e querer agarrar o mundo com as mãos e as pernas. No entanto, eu também consigo perceber que existem diferenças. É justamente com base nessas diferenças que tenho aprendido com o Michael. Ele, mesmo que agitado, procura fazer as coisas com calma e no tempo que for preciso para que seu objetivo seja concretizado. Eu não sou assim, procuro resolver tudo o mais rápido possível. Além disso, sou influenciável, e o Michael claramente não é. Isso é algo que gostaria de mudar na minha vida.

Preconceito

O que você tem a dizer para as pessoas que acreditam que não existe preconceito contra os LGBTs no Brasil?

Que procurem se informar mais. Há tantas estatísticas sobre as violências que nós estamos sujeitos, tantos depoimentos de pessoas que já passaram por agressões diversas, que fica complicado entender alguém que julga que não existe LGBTfobia no Brasil.

O público está shippando Michael e Santiago?

Sim! O casal Santiel está sendo bastante aclamado pelos fãs de Malhação, e eu estou bastante feliz com isso. Estamos vivendo um momento esquisito, então é muito relevante receber esse abraço do público. Agradeço e sigo torcendo por dias em que o amor e o afeto não sejam atos de terror para ninguém.

A novela Orgulho e Paixão (que terminou há alguns dias e era exibida na faixa das 18h) teve um casal homossexual que, segundo o autor, felizmente teve bastante apoio do público. No entanto, ele também sofreu críticas por ter exibido um beijo gay na faixa das 18h. Você já recebeu alguma crítica pela trama do Michael em Malhação?

Sim, principalmente depois do beijo, que teve uma repercussão incrível. Algumas pessoas dizem que não têm nada contra, mas que não saberiam explicar aos filhos o porquê daquele beijo. Mas estamos em 2018 e as pessoas deveriam explicar um beijo com mais naturalidade.

Vergonha

Michael perguntou para a mãe se ela já sentiu vergonha da orientação sexual dele… O que você diria para os LGBTs que sentem essa insegurança tanto em relação à família quanto em relação aos amigos?

Diria para não terem, que somos o que nascemos para ser. Eu entendo a insegurança, o medo do mundo, a vergonha, o receio de se descobrir e se expor. Acredito que as pessoas não são obrigadas a “se assumir” para ninguém. Ao mesmo tempo, isso não deve ser um fator para deixar de ser quem você é.

Ah, se todas as famílias se inspirassem na Beth (mãe de Michael, interpretada por Gorete Milagres)… O mundo seria bem melhor, né?

Com certeza! Famílias que se apoiam são sempre as melhores porque há confiança no outro. A minha família é a minha base de vida. Minha mãe é muito parecida com a Beth, em todos os sentidos. Achei maravilhoso que a abordagem familiar do Michael foi algo próximo da minha realidade, que eu sei que não é a comum. Exibir que o apoio familiar é importante para o bem-estar de alguém é lindo demais.

Relação

Você e Gorete Milagres parecem super entrosados. Como é a relação com ela?

Eu não conhecia a Gorete e descobri esse ano que a “Alice (Milagres) era filha da Filó”. Quando descobrimos que seríamos mãe e filho, a gente começou a conversar sobre as cenas. Quando ela chegou foi incrível. Eu gritei “mãe!” muito alto e ela respondeu “meu filho!”, e nos abraçamos. Fizemos leitura e já no dia seguinte gravamos nossa primeira cena, que foi a que o Michael perguntava se ela havia sentido vergonha quando descobriu que ele era gay. Foi incrível, uma das cenas mais importantes da minha vida.

Quais foram as cenas mais emocionantes ou desafiadoras que você fez na trama até agora?

A cena de violência no banheiro, em que o Michael apanha; a cena em que ele pergunta para Beth se ela tem vergonha dele; e as últimas cenas que encerraram a quinzena do Michael. Todas essas foram muito especiais para mim, significaram muita coisa!

Primeira experiência

Este é seu primeiro trabalho na TV, né? Como está sendo a experiência? Pretende continuar?

Sim, é meu primeiro trabalho na TV, bem como é também meu primeiro emprego. E está sendo incrível. Apesar de ser cansativo, tenho muito prazer e amor pelo o que faço. Tenho aprendido bastante. Claro que pretendo continuar, seria incrível sair de um trabalho e ir para outro.

O Michel tem uma autoestima de dar inveja! Você também é assim?

Eu confio muito em mim e nas minhas decisões, não tenho problemas com meu corpo e nem com quem eu sou. Mas mesmo com muitas questões bem resolvidas, tenho um potencial enorme de insegurança, principalmente quando se trata de algo que não domino.

Cabelo

Seu cabelo é uma marca sua. Como cuida dele?

Eu sempre tive uma relação de amor pelo meu cabelo. Quando era criança, ele era liso e enorme. Chorava absurdos quando tinha que cortar, minha mãe me levava e eu odiava. Teve uma vez que eu cortei com uma mulher que destruiu meu cabelo, e ele começou a mudar. Em 2016 eu raspei a cabeça. Quando deixei ele crescer, vi os cachos aparecendo. Fiquei chocado ao saber que meu cabelo era daquele jeito. Comecei a fazer Low Poo no início de 2017, que é o uso dos produtos capilares com menos produtos químicos, como sulfatos, petrolatos e afins. Tem funcionado e eu sou muito feliz de ter o cabelo que tenho.

Estilo

Qual é seu estilo na hora de se montar?

Quando encarnei a ideia de criar uma Drag Queen, eu queria fazer uma madame, cheia de pose. Minha referência era algo próximo da Madonna em Vogue, Express Yourself e Girls Gone Wild, por aí. Hoje eu tenho outras referências e uma visão muito mais ampla do que é Drag. Eu não sou uma Drag Queen para falar o que é ser uma, mas acredito que se trata de uma performance artística que desconstrói gênero, e para mim isso já é muita coisa!

Onde busca suas referências de moda?

Em tudo. Meu feed do Instagram são pessoas que conheço, que admiro. Sigo muitas marcas e alguns estilistas também, como Alexander MacQueen, por exemplo. Eu amo moda, adoro as coisas que as pessoas acham esquisitas e acredito que uma pessoa diz muito sobre si apenas com o que veste.

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