Grazi Massafera diz que não se sente vingada por críticas no passado: “Gostinho de superação pessoal”

Publicado em 01/11/2016

Em entrevista, Grazi Massafera falou um pouco de Luciene, sua personagem em A Lei do Amor, nova novela das nove da TV Globo.

A atriz também comenta sobre ter sido indicada ao Emmy Internacional por Larissa, que ela interpretou em Verdades Secretas.

Confira o papo:

Como está sendo a repercussão da personagem nas ruas?

“Eu é que estou querendo saber de vocês, o que vocês estão achando. A novela está começando e a gente quer opiniões. Para a gente, está muito bacana. O meu núcleo é mais pesado né? E a minha personagem, a Luciene, ela tem um pouco mais de irreverência. Tirando quando ela está em confronto com a Magnólia, as minhas cenas trazem momentos de diversão. E, claro, mudar totalmente de personagem. Eu vim de uma novela (Verdades Secretas) completamente diferente. Eu saí de lá e vim para um personagem que tem mais humor. Está sendo uma delícia e um momento de bastante estudo também.”

Como ela controla aquele marido? Ela faz dele o que ela quer, né?

“É paixão, né, gente? O que a paixão não faz? O Hércules é um apaixonado e a Luciene também gosta dele – eu vou defender ela. Mas ela tem a sua própria ética, em questão de relacionamentos, nesse quesito.”

Ela deixou de ser garota de programa, mas isso não saiu dela, certo?

“Mas, se você for ver bem, o foco dela é outro. É em função dela e do marido. Ela quer colocar o marido dela como prefeito da cidade. Para isso, ela criou a própria ética, para poder chegar a esse desejo.”

Você a considera uma mulher ambiciosa?

“Lógico! O personagem é muito ambicioso. Acho que todo mundo nessa novela tem o seu foco, a sua ambição, o seu desejo, sua particularidade. Eu acho que, no meio daquela gente toda, ela chega a ser inocente. Ela só quer ser a primeira dama de São Dimas. Só isso!”

Você está defendendo a personagem. Você está nos mostrando um outro lado dela. Por exemplo, ela trai o marido e isso não é legal, mas você nos mostra que isso pode ser bom. Isso é uma característica sua? Você defende todas as suas personagens?

“Eu não acho que seja uma traição, é um pacto, o que ela tem com o marido. Eu não acho que ele está nessa história como um corno manso. Eu acho que ele está nessa história sabendo. O cara que casa com uma ex-garota de programa – claro que eu não estou generalizando -, porém, na ficção e na história da Luciane – e eu quero deixar isso bem claro! – eles têm um pacto. Não está evidente para o público, mas é evidente na relação. Você vê que, daqui a pouco, ela vai dizer para o marido: ‘você tem ciúmes de tal pessoa, mas não tem do senador, por quê?’. Ela põe ele em xeque também. Mas é porque é uma questão dos dois. Eu acho que ele tem o seu fetiche também. Por isso, eu defendo a relação deles. Não tem como classificar ele. E a culpa não é só dela. É um acordo dos dois. E eu tenho que defender, porque eu vou fazer essa mulher, gente! Não posso deixar ela ser sentenciada já.”

A briga entre ela e a Magnólia foi dolorosa. Como é isso?

“É uma delícia poder trabalhar com a Vera Holtz e já era um desejo meu particular e íntimo. Eu admiro a carreira dela. O talento dela sempre esteve acima do sotaque e de qualquer classificação que poderiam colocá-la. E poder estar em cena com ela, usando o meu sotaque, poder mostrar a força da personagem, que eu também estou construindo, é uma delícia. E ver, diariamente, essa mulher e todos os outros trabalhando é lindo. Cacau (Claudia Abreu), eu não estou no núcleo dela; Reynaldo Gianecchini é muito bom de ver e trabalhar; Otávio Augusto, então… Eu sempre digo que aqui dentro, foi a minha faculdade, o meu colégio, o meu tudo. Foi aqui que eu comecei, literalmente. A primeira coisa que eu fiz foi na Oficina da TV Globo. E, até então, fui aprendendo com a vida e com os profissionais com os quais eu trabalhei. E esse momento está sendo um encontro sonhado. E que bom que está em um momento de maturidade minha, para que eu possa aproveitar ao máximo.”

Como é chegar nesse encontro, indicada ao Emmy?

“Ah, Feliz da Vida. É o momento mais feliz da minha carreira.”

Você se sente vingada por conta de algumas pessoas que falaram mal de você no início de sua carreira?

“Não! Esses dias, me perguntaram isso e eu fiz um link a uma história minha do colégio, que eu vou resumir agora. Quando eu era pequena, queria muito jogar vôlei, mas eu era muito magricela. E ficava olhando pela janela da minha sala as meninas jogando vôlei. Queria muito estar ali, mas não conseguia. Um dia, comecei a assistir, depois comecei a virar gandula – isso sem ninguém me convidar. Eu fui entrando. Um dia, faltou uma menina e eu me ofereci. E a mulher do treinador falou para ele: ‘você vai deixar essa menina jogar? Ela é magricela, ela vai quebrar aqui e a gente vai ter problema’. Eu ouvi aquilo. Não fiquei com raiva dela. Peguei ela como foco para superação. Depois, muitas coisas aconteceram, e eu comecei a jogar todos os dias, treinei muito, virei capitão do time e fui campeã por ele três vezes. Acabei virando referência do colégio. Eu faço uma analogia a isso. Em nenhum momento eu tenho nas pessoas que me criticam um foco de raiva. Então, isso, para mim, não é vingança. É uma alavanca de superação comigo mesma. Sinceramente, te digo isso do coração. Eu venho fazendo isso na minha carreira. Eu me peguei esses dias dando uma entrevista e me toquei: ‘Caramba, é assim que eu lido com a vida’. Te juro, não é vingança. Mas tem um gostinho de superação pessoal.”

Isso foi importante para você?

“Eu acho isso bacana. Me faz crescer. Eu não faço pelo outro, faço por mim. É claro que a gente quer agradar, que a gente quer ser aceita, mas se me falarem ‘vem limpar esse chão aqui’, eu vou querer limpar bem, vou dar o meu melhor. Não que o meu melhor seja melhor do que de algum outro, ou que eu seja muito melhor, seja extremamente talentosa. Não! Não me considero isso. Eu considero que, para qualquer coisa que eu faça, quero dar o meu melhor naquele dia. E é o que eu tenho pra dar.”

Como é usar o visual da personagem, essa coisa poderosa de femme fatale?

“Eu acho o visual dela muito bonito. A unha, por exemplo, eu acho muito bonita, mas não dá para fechar um botão, uma bijuteria. Estou tendo uma grande dificuldade de levar ela para casa, por exemplo (risos). E estou usando isso como garras. Eu coloco a Luciene como uma espécie de felina – ela usa muito as mãos, uso mais o corpo. E usar esse visual, para mim, é hilário. Eu faço piada dessa roupa. Não dá para levar a sério. É extremamente importante, é necessário. É um personagem de tipo. Em ‘Verdades Secretas’, era diferente. A Larissa era um personagem da vida real, completamente diferente. Tinha uma doença coletiva. Mas tudo aquilo que era feito já lá, era extremamente importante. Eu acreditava muito naquela caracterização e aquilo era uma alavanca para me jogar na cena. Aqui, com a Luciene, é o inverso disso. Me caracterizar, colocar esse salto altíssimo, essas unhas, esse cabelo, essa maquiagem.. É uma máscara.”

Você que vem de concursos de Miss, nunca encontrou uma Luciene na vida?

“Ah, várias. Tem Luciene em todos os lugares. Tudo é fonte de inspiração para ela. Estou falando no jeito de se vestir. Ela fica no limite, entre o bom e o ruim. Quando a gente coloca tanta coisa assim, se olha e fica na dúvida sobre se está bom ou ruim. É isso que a Gogoia (figurinista) queria criar. E acho que deu certo.”

Tem alguma coisa do figurino que você queira levar para casa?

“Olha, dela não tem nada não. Pra começar, quero cortar essa unha, viu? Às vezes, eu estou brincando com a Sofia – e até aí, ela me atrapalha um pouco – mas vejo que é extremamente necessária para o personagem.”

Você acha que é isso que dá o clique para você entrar no personagem?

“Claro! Isso ou alguma música mais ligada a ela. Às vezes, estamos na caracterização, e ouço uma música, um funk ou um sertanejo, músicas populares mesmo, que todo mundo ouve. Então, eu gosto dessas músicas, que ajudam a entrar na personagem. Ela é alguém que está sempre em estado de alerta. Ela está sempre focada, é uma personagem muito atenta a tudo e a todos. Ela parece ser boba, mas é espera, sabe se relacionar. E tem uma energia, uma vibração, que eu tenho que ter. Às vezes, estou de TPM ou estou mais cansada, e não dá para fazer a Luciene assim. Então, eu coloco uma música, que me dá uma animada.”

Você acha que essa indicação ao Emmy mexeu com você no set? Acha que entra mais confiante em cena depois disso? Mais segura para contracenar com tantas feras?

“Não! Nunca é tranquilo. Eu bambeio. Bambeei nos primeiros dias com a Vera, mas quem quebrou isso foi ela. O mérito é todo dela. Ela tem esse talento, ela joga para a cena. Ela não se coloca como a grande atriz que é. E isso é muito lindo. Outros com quem eu contracenei fizeram isso comigo. Por exemplo, quando eu cuspi na cara da personagem da Marieta (Severo) em cena, para mim, aquilo foi uma questão. Uma questão mesmo! E ela derrubou isso pra mim. Então, a admiração aumentou e eu fiquei mais à vontade. A indicação não mudou. O que mudou foi que tem um respeito diferente das pessoas. Mas acho que isso não veio com a indicação do prêmio, foi com o resultado do trabalho anterior. Acho que viram o quanto eu respeito a profissão e quanto eu venho me dedicando mesmo. Na medida do possível, porque eu também me dedico muito à minha filha. Não passo por cima dela por nada. Sempre a prioridade é ela. Mas eu me dedico à minha profissão, ao que decidi fazer da minha vida por enquanto.”

Está ansiosa para o prêmio?

“Ah, eu estou ansiosa para ver ‘O Rei Leão’ na Broadway. Não vou mentir, eu vou levar a minha filha. Ela ama o ‘Rei Leão’ e eu estou super ansiosa para mostrar para ela o museu de História Natural, que ela quer ver o dinossauro. Outro dia, quando passou na televisão, ela perguntou: ‘mamãe, é aí que você vai me levar?’. Ela está louca para ir ao museu. E, lógico gente! A indicação para mim, já é uma premiação, independente de eu voltar de lá com esse prêmio. Mas, concorrer com a Judy Dench não é para ninguém. E eu acho mais justo que fique com ela. A mulher já ganhou um Oscar com uma cena em um filme. Então, está tudo certo.”

Você falou que foi uma questão cuspir na Marieta. E bater na Vera Holtz?

“Eu não bati nela não, graças a Deus! E tomara que não chegue esse momento, porque eu não sei o que vai acontecer comigo. Vou ter que tomar até calmante (risos). Ela que deu na minha cara. Eu adorei apanhar. Achei o máximo. E ela é uma mulher muito forte, como atriz e como personagem. Então, eu falei: ‘Vera, bate!’. Eu não gosto de coisa muito fake. E acho que um tapa na cara dá pra levar, né? (risos).”

Não teve o tapa, mas teve a reação da Luciene, que foi quase um tapa…

“Sim. Foi uma cena que eu gostei de ter feito e gostei do resultado. E olha que eu sou muito chata, quase nunca gosto. Mas fiquei super feliz. E é, gente, cada vez que vocês me virem em cena com a Vera, saibam que eu vou estar ali muito feliz. Admiro muito ela.”

Esse tipo de cena com uma referência mexe mais com você do que uma cena sensual, por exemplo?

“Eu tenho vergonha de fazer cena sensual. Eu realmente me escondo atrás do personagem para fazer. Isso é uma outra questão para mim. Eu sempre procurei pessoas para me ajudar. Mas vocês podem ver que ela é uma ex-garota de programa que não faz muita coisa.”

Em Verdades Secretas, você fazia mais cenas sexy, né?

“Sim. Mas era diferente. Não era um lugar sensual, mas um lugar mesmo de drama, de vida difícil. Era uma outra coisa. Não era uma coisa pelo prazer. Era uma prostituição pelo vício, não pelo dinheiro. É um contexto totalmente diferente. Ali, eu não tive mesmo pudor não. As pessoas invertem os valores e o pudor não existe.”

Você teve muito feedback desse trabalho? Alguma história parecida com a da personagem que te emocionou?

“Teve. Teve um dia em que eu estava gravando, veio um usuário e correu até mim. A produção segurou, mas ele falou: ‘mas ela está na necessidade, eu vim trazer umas pedras para ela!’. isso foi um pouco chocante. Eu fui conversar com ele, expliquei que era ficção. A gente teve proximidade, sempre com acompanhamento. Porque eu também não tenho como ajudar. De alguma maneira, a gente sempre teve junto, pessoas que pudessem fazer isso acontecer. Teve meninas e mães que chegaram a ouvir a Larissa como referência. Eu ouvi muita coisa bacana nas ruas. Enfim.”

Você deixa sua filha ver a novela?

“Essa novela, ela vê. Ela se assusta e diz: ‘Ih, olha a mamãe falando’. Aí, eu explico para ela.”

Acha que ela vai ser atriz?

“Não sei. É difícil dizer. Só sei que vou apoiar no que ela decidir ser. Ela tem tendência para tudo. No jeito que ela brinca, que ela faz. Ela é igual a mim quando era pequena.”

Como você vai curtir o Natal?

“Vou curtir, se Deus quiser e a produção liberar. Com a família sempre, né? No réveillon a gente fica com os amigos.”

André RomanoENTREVISTA REALIZADA PELO JORNALISTA ANDRÉ ROMANO

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