Deborah Secco sentencia: “A gente aprende errando, infelizmente”

Publicado em 07/09/2016

A atriz Deborah Secco conversou com nossa reportagem e falou um pouco de seu retorno às novelas em Malhação. Ela confessou que não se arrepende dos erros do passado.

Confira o papo:

Você está sendo muito elogiada por sua participação em Malhação. Como recebe esse carinho?

“Como atriz, tento me desvincular do que sou como pessoa. Ainda tenho dificuldade em me ver como mãe de adolescentes, mas, quando visto a Tânia, me sinto mais velha e acredito no peso da vida e das dificuldades que ela já enfrentou, e tento popularizá-la ao máximo. O público gosta muito desses personagens populares.”

Sua filha ainda é um bebê. Como está sendo sua rotina longe dela?

“Ainda choro para sair de casa. É muito difícil e cruel esse pouco tempo que dão de licença-maternidade. Justamente quando a criança começa a fazer tudo, a querer falar e andar, a gente tem que voltar a trabalhar e delegar os cuidados. Mas tenho que entender que essa volta é por ela e para ela. Tenho certeza de que ela vai saber disso no futuro.”

Já trouxe a Maria para o Projac?

“Trago a Maria Flor às vezes, quando tenho menos cenas para gravar. Não tenho motorista e a questão da cadeirinha impede um pouco. Ela poderia vir e voltar de táxi, mas não pode sem a cadeirinha.”

E a composição da personagem?

“A Tânia é uma personagem que me dá muito prazer em fazer. Gosto de brincar com esse universo mais popular. Mas ainda não consigo ficar inteira. Fico com a cabeça em casa e a babá eletrônica fica o tempo todo ligada na minha bolsa.”

Parece que você está muito feliz. É isso mesmo?

“Esse é o período mais feliz da minha vida, sem dúvida alguma. Sempre tive uma carreira bem-sucedida e estável, mas nunca escondi de ninguém que minha carência era ali na parte da família. Agora, graças a Deus, chegou esse momento em que posso trabalhar um pouco menos e escolher ficar um pouco mais em casa, ainda que de uma forma dura porque não estou adaptada. Sempre trabalhei muito minha vida inteira, mas hoje tenho uma realização pessoal que nunca tive. Minha realização sempre foi profissional. Eu sempre alcançava os desafios na carreira, mas, na vida pessoal, não. Queria muito ser mãe e não só isso. Queria ter minha família, que meu casamento desse certo.”

Como é a sua relação com o Hugo?

“O Hugo foi meu primeiro presente. Ele me deu a Maria Flor e a vida em família que sempre quis. Ele é o homem da minha casa, cuida da gente e venho trabalhar muito tranquila porque sei o quanto a Maria é louca pelo pai.”

Você se considera uma pessoa realizada?

“Hoje trabalho muito mais realizada. Antes eu ia trabalhar me apegando àquilo para suprir todas as minhas carências externas. Hoje, não. Venho curtir o trabalho como trabalho, ele não tampa mais nenhum buraco, sabe? Agora tenho minha vida, minha filha, minha família, meu marido e meu trabalho.”

Você está amando a personagem, né?

“Sinto muito prazer em fazer a Tânia em uma novela leve, com jovens e poder passar para eles um pouco do que aprendi. E também receber um pouco dessa vontade de fazer. Às vezes chego cansada, mas eles querem tanto fazer bem e passar o texto que isso me anima.”

Você é sagitariana, e os sagitarianos odeiam rotina. É assim na sua vida?

“Nunca gostei de rotina, mas agora estou amando. No início foi difícil porque tive que entender que tinha que criar uma rotina para a Maria. Ela ir ao parquinho, voltar, tomar banho, almoçar, dormir, lanchar, brincar, tomar banho, jantar e dormir. Fazer isso para mim era difícil, mas depois fui vendo como isso refletia no bem-estar dela, no sono. Hoje tento não interferir na rotina dela com a minha falta de rotina. Mas agora ela já sente quando vamos embora, chora, usa a mãozinha para pedir para ficar.”

E agora você é mãe na ficção e na vida real…

“Ser mãe agora na ficção tendo essa experiência na vida real fica mais fácil entender a questão da transferência. Consigo captar que essa mulher abandonou todas suas possibilidades pelos dois filhos. Eu não abandonei nada porque tive a Maria tarde, mas, de fato, quando temos filho, nossa vida muda. Hoje escolho as coisas pensando em minha filha. Escolho o trabalho já vendo o tempo em que vou ficar com ela. Todas as minhas escolhas giram em torno dela e não entendia isso, de amar alguém mais que eu mesma a ponto de fazer escolhas por essa pessoa, e não por mim. Hoje entendo isso. E isso me faz ter uma relação muito mais verdadeira na ficção.”

Como foi a composição da personagem?

“Costumo fazer imersões quando começo um trabalho. Passo quatro meses fora fazendo pesquisa. Desta vez, por causa da Maria, não fiz. Mas fui andar de ônibus e vi que as mulheres andam segurando a alça da bolsa junto ao corpo por medo de assalto. Eu nunca tinha feito isso. As meninas que trabalham na minha casa também me ajudam muito. Se elas falam algo curioso, eu gravo.”

O Hugo está seguindo seus passos. Como você está vendo isso?

“O Hugo vem de uma história completamente diferente da minha. Ele teve que dar um diploma para a mãe para só depois começar a correr atrás do que queria. E ele quer muito ser ator. Busca pelos méritos dele e tenho muito orgulho. Acredito muito na força dos sonhos. Não temos que achar que não vamos conseguir porque é difícil. Para o Hugo é muito difícil, principalmente por ser casado comigo. Há uma grande cobrança e, mesmo assim, ele não desiste. Isso me faz admirá-lo muito.”

Como você recebe o carinho do público por você, que agora também é destinado à Maria?

“Tento ser uma pessoa normal, uma mãe normal. Todas as mães têm esse amor enorme pelos filhos e ficam babando mesmo. Quero que a Maria saiba que a foto dela é normal e não vale mais do que a de ninguém. É uma criança normal e vivo minha vida normalmente. Claro que tem a parte chata, mas, se a gente acreditar que somos diferentes do resto do mundo, aí ferrou. As pessoas têm um carinho enorme pela Maria. Parece que sentem o quanto eu queria uma filha e se realizam com minha realização.”

Você tem novos projetos em vista?

“Não tenho outros planos profissionais para agora, só mesmo Malhação. O projeto que eu queria focar agora é o segundo filho, mas o marido não quer ainda (risos). Tenho 1 ano e 6 meses de diferença para minha irmã e isso é muito bom. A gente cresceu junto, usava as mesmas roupas, aprendemos a dividir. Hoje minha irmã é minha grande parceira. Esse foi o melhor presente que meus pais puderam me dar e gostaria de dar o mesmo para a Maria. Mas filho a gente não faz sozinho, né? Então fico tentando, vai que um dia emplaco (risos).”

Você se arrepende de algo que fez no passado?

“Esse clichê de que tudo o que vivi serviu para ser quem sou hoje não serve para mim. Se eu pudesse ter evitado algumas coisas que vivi, faria isso sem dúvida. Se eu pudesse voltar no tempo, não teria feito muitas coisas, o que me pouparia muito. Mas é isso. A gente aprende errando, infelizmente.”

Você é a mãe que gostaria de ser?

“Tento ser a mãe que gostaria de ser, mas nunca somos exatamente o que sonhamos. Queria ter mais tempo para ficar com ela, não queria precisar voltar a trabalhar agora, por exemplo. Mas tento sempre ser a melhor mãe que posso ser.”

André RomanoENTREVISTA REALIZADA PELO JORNALISTA ANDRÉ ROMANO

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