'Novelinha' da Globo

Trama que não sai do lugar atrapalha Malhação – Toda Forma de Amar

Malhação - Toda Forma de Amar precisa sair da monotonia

Publicado em 03/12/2019

Os telespectadores de Malhação – Toda Forma de Amar podem sentir há algumas semanas certo marasmo na história de Emanuel Jacobina. A disputa de uma criança por duas mães, a biológica e a adotiva, deixou de empolgar. Além disso, cenas de incisiva homofobia provocam revolta. Sem dúvida, o tom agressivo e incompreensivo usado por um dos personagens constantemente é incômodo.

Embora haja bons momentos pontuais, a exemplo das cenas do casal Jaqueline (Gabz) e Thiago (Danilo Maia) e sua abordagem do racismo, a trama central tem despertado certo enfado. Rita (Alanis Guillen) e Lígia (Paloma Duarte) disputam a guarda da pequena Carolina, ou Nina. Ou Ana, como a mãe biológica Rita a chama insistentemente. Aliás, “Eu quero a minha filha” e variantes surgem diversas vezes a cada capítulo. De modo que nem a chegada de Rui (Rômulo Neto), pai da menina, que foi bastante adiada na história, fez ainda algum efeito no sentido de estimular uma trama cansada.

Em Malhação – Toda Forma de Amar, a homofobia de Max incomoda, mas é real

Roberto Bomtempo como Max em Malhação: Toda Forma de Amar (Divulgação / Globo)
Roberto Bomtempo como Max em Malhação Toda Forma de Amar Divulgação Globo

Ademais, como se não bastasse, Max (Roberto Bomtempo) chega a ofender com sua homofobia exacerbada. Mérito do ator, que com seu talento desperta ainda mais revolta diante das atitudes de seu personagem em Malhação – Toda Forma de Amar. Talvez os autores estejam exagerando intencionalmente, justamente para demonstrar o quão errada é a conduta do pai de Guga (Pedro Alves). Regina (Karine Teles), mulher de Max e mãe de Guga, sempre fica entre os dois na tentativa de conter os ânimos e a iminente ocasião na qual os dois cheguem às vias de fato.

Max é um homem machista, preconceituoso, misógino, enfim, corresponde a todos os estereótipos de uma pessoa cujo comportamento e visão de mundo entram em conflito com demandas de hoje. Capítulos atrás, ele manifestou desagrado com a decisão da esposa de trabalhar fora e viver uma vida para além do lar, por exemplo. Com efeito, em que pesem os diálogos fortes que Max mantém com Guga e Regina, as considerações e ameaças em torno da necessidade de tratamento médico para o rapaz “se curar” do que sente, ou seja, uma possível “cura gay”, são ofensivas, fortes. Todavia, nada diferente do que é possível verificar junto a amigos e familiares nossos, não raro.

Carla e Marco Rodrigo: casal roda e volta sempre ao mesmo ponto

Marco Rodrigo (Julio Machado) e Carla (Mariana Santos) em Malhação
Marco Rodrigo Julio Machado e Carla Mariana Santos em Malhação

Em Malhação – Toda Forma de Amar, Carla (Mariana Santos) e o Major Marco Rodrigo (Júlio Machado) são o principal casal maduro da história. Por muito tempo eles formaram um triângulo amoroso com Madureira (Henri Castelli), o instrutor de artes marciais e líder de uma ONG que colabora para que os jovens de Caxias não entrem no mundo do crime. Madureira liberou Carla para viver seu amor por Marco Rodrigo. No entanto, as diferenças entre os dois e a discordância de Carla quanto a ele trabalhar como policial nas ruas são ao mesmo tempo válidas e desestimulantes.

Evidente que uma história narrada em capítulos por meses a fio deve usar de artimanhas que compliquem as vidas dos personagens. Afinal, sem sofrimento, intrigas, desentendimentos e problemas não tem novela. No entanto, talvez a repetição de conflitos por tanto tempo acabe por desestimular ao invés de instigar. Além disso, as temporadas de Malhação são em geral mais longas do que as novelas dos outros horários e não há exibição aos sábados. De tal sorte que a sensação de enfado pode se fazer mais presente.

Há qualidades em Malhação – Toda Forma de Amar. Os personagens jovens a partir dos quais a temporada se desenvolve têm cada um o seu momento particular, bem como contribuem uns para o enriquecimento das tramas dos outros. Mas, por mais que os comportamentos sejam justificados por uma ou outra circunstância anteriormente vivida – como o marido de Carla ter sido assassinado, ou a bebê ter sido tirada de Rita à sua revelia –, para uma história que fica tanto tempo em cartaz é preciso evitar a sensação de girar em círculos.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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