Felipe Camargo: de coronel a malandro, ponto alto de Espelho da Vida

Publicado em 15/02/2019

Com toda a certeza, Felipe Camargo pode ser destacado como um dos pontos altos de Espelho da Vida, a muito bem arquitetada novela que Elizabeth Jhin nos oferece atualmente às 18h, na Rede Globo. Nas duas instâncias temporais que a trama da novela apresenta, na década de 1930 e nos dias atuais, o ator tem personagens bastante distintos entre si. No entanto, eles cumprem a mesma função: pai da mocinha, Júlia Castelo no passado, Cris Valência hoje, papel de Vitória Strada.

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Enrolador, metido a esperto: Américo, em busca de uma nova chance

O relacionamento de Ana (Júlia Lemmertz) e Américo não deu certo. Rendeu a filha Cris e uma série de desilusões, até que Ana não aguentou mais. Posteriormente, ela se uniu a Flávio (Ângelo Antônio), que a ajudou a criar a filha e é tido por esta como seu pai. Américo nunca foi escondido de Cris, mas a vida nunca os uniu grandemente. Em parte, isso ocorreu em virtude da própria atitude desse pai, cuja filha cresceu afastada dele. Hoje, Cris é uma jovem na casa dos 20 anos. Distanciados desde sempre, os dois vivem o desafio de construir uma relação que manifesta repercussões da vida passada. A estadia de Américo na pequena Rosa Branca, interior mineiro, cenário do filme que Cris estrela, serve para estreitar esses laços. Ou, ao menos, para tentar fazer isso.

Coronel Eugênio Castelo: arrogante, opressor e hipócrita

Na década de 1930 encontramos Felipe Camargo na pele do Coronel Eugênio Castelo. O típico homem rico do interior, embora nem um pouco xucro, Eugênio é machista e opressor. Não reconhece na esposa Piedade (Júlia Lemmertz) maior valia do que a de ser esposa e mãe de Júlia. Enciuma-se diante da relação de carinho e respeito existente entre Piedade e o Padre Luiz (Ângelo Antônio). No entanto, não deixa de ter fora de casa uma amante e um filho bastardo. Trata-se de Maristela (Letícia Persiles), mãe do pequeno Henrique (Otávio Martins).

Todos temem o Coronel Eugênio. Todavia, Júlia/Cris se levanta contra a opressão do pai. Especialmente por sofrer pelo modo como sua mãe é tratada por ele. E também por não concordar com o casamento desejado pela família. Gustavo Bruno (João Vicente de Castro), Marquês de Torga, é o escolhido pelo coronel para genro. Mas Júlia ama Danilo Breton (Rafael Cardoso), um artista plástico. Os acontecimentos do passado convergem para a trágica morte de Júlia, ocorrida em 1932.

Conforme Cris compreende enfim o porquê de sonhar consigo mesma sendo assassinada com um tiro – ela foi Júlia Castelo, em sua vida passada, e agora interpreta “a si mesma” no filme dirigido por Alain Dutra (João Vicente de Castro) -, a jovem mergulha mais e mais no crime, desejosa de desvendá-lo. A descoberta do portal para o passado, através de um espelho na casa que foi de Júlia, leva Cris a viver sua vida passada e influir em seus rumos como conseguir. A Guardiã (Suzana Faini) que protege a casa foi no passado, a saber, Dona Albertina, avó de Júlia.

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Outras parcerias de Felipe Camargo e Elizabeth Jhin

Os dois personagens de Espelho da Vida não são os primeiros criados por Elizabeth Jhin que Felipe Camargo interpreta. O primeiro encontro de ator e autora se deu em 2012, quando ele viveu o médico Gabriel de Amor Eterno Amor. Viúvo, ele cuidava da saúde de Verbena (Ana Lúcia Torre), mãe do protagonista Rodrigo (Gabriel Braga Nunes). Gabriel era pai de Miriam (Letícia Persiles), Gabi (Olívia Torres) e Clara (Klara Castanho). Era apaixonado por Beatriz (Carolina Kasting), psicóloga especializada em terapia de regressão.

Em 2015, novo encontro da dupla em Além do Tempo. Aqui Felipe viveu Bernardo, filho da Condessa Victória Castellini (Irene Ravache), na fase passada em meados do século 19. Ele era o pai da mocinha Lívia (Alinne Moraes) e o grande amor de Emília (Ana Beatriz Nogueira). Quando a novela encerra um ciclo e inicia outro, na atualidade, a função de Bernardo é semelhante. Escritor e enófilo, sua função é representar uma nova chance para o amor na vida de Emília. Além disso, ele desejava descobrir sua verdadeira origem. Os nomes dos personagens foram mantidos, no caso de serem interpretados pelos mesmos atores de uma fase para a outra.

Anteriormente, embora sem a parceria de Elizabeth Jhin, Felipe Camargo viveu outros personagens em histórias relacionadas com o sobrenatural, ou com vidas passadas. Foi Adriano, o Anjo da Morte, em O Sexo dos Anjos (1989/90), de Ivani Ribeiro. E o Dr. Julian em Alma Gêmea (2005/06), de Walcyr Carrasco.

As necessárias e bem desenvolvidas nuances da atuação de Felipe Camargo

Seja como o aproveitador Américo, que se vale da paixão despertada em Dona Gentil (Ana Lúcia Torre), proprietária da pensão onde se instala, seja como o irascível Coronel Eugênio, figura detestável, Felipe Camargo demonstra grande amadurecimento artístico. Mais do que a voz ou o jeito de se portar com as roupas e adereços dos anos 1930, a diferença de seu trabalho de interpretação consiste em saber não apenas diferenciar os “dois pais” de Júlia/Cris. O ator não se descuida da proposta da história, que é a de que os personagens têm diferenças do passado a serem acertadas no presente. E Américo, um desajustado, paga pelas maldades de Eugênio.

Destaque-se a boa química do ator com seus colegas frequentes de cena. Especialmente, Vitória Strada, Júlia Lemmertz, Ângelo Antônio e, com efeito, Ana Lúcia Torre. Ladino, Américo sabe como tirar vantagem do amor outonal que despertou na pobre Gentil. E a leva frequentemente na conversa.

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